A NARRAÇÃO E A TROCA DE DISCURSO
No discurso direto, o narrador introduz o personagem, geralmente, com um verbo de elocução e termina a frase com dois pontos. Em seguida, faz um novo parágrafo e coloca um travessão, seguido da fala do personagem. Já, no discurso indireto, o narrador conta o que o personagem disse.
Muitas vezes é conveniente transformar um discurso direto em indireto. É o que fazemos, normalmente, ao reproduzir um diálogo que presenciamos, com nossas palavras.
Veja como ficam algumas passagens de narrativas de nossa literatura, originalmente escritas em discurso direto, transpostas para o indireto.
Discurso direto | Discurso indireto |
Aires pôs água na fervura, dizendo para o bacharel: — Não vale a pena, moço; o que importa é que cada um tenha as suas idéias e se bata por elas, até que elas vençam. (Machado de Assis, in Esaú e Jacó) | Aires pôs água na fervura, dizendo para o bacharel que não valia a pena. O que importava é que cada um tivesse as suas idéias e se batesse por elas, até que elas vencessem. |
Observe, em negrito, as modificações realizadas no texto, resumidas no quadro abaixo:
Discurso direto | Discurso indireto |
Uso de dois pontos, parágrafo e travessão, depois do verbo de elocução. | Ausência de pontuação depois do verbo de elocução, que vem seguido do conectivo que. |
Verbos no presente do indicativo. | Verbos no perfeito ou imperfeito do indicativo. |
A transformação de discurso, portanto, requer atenção especial no emprego dos tempos verbais, pontuação e algumas palavras como pronomes, advérbios e conectivos.
TEMPOS VERBAIS
Ao transformar o discurso direto em indireto, transcrevemos algo que alguém já disse. Logo, no discurso indireto, o tempo verbal será sempre passado em relação ao discurso direto. Observe alguns casos no quadro abaixo.
Discurso direto | | Discurso indireto |
Presente do indicativo | | Pretérito perfeito ou imperfeito do indicativo |
Pretérito perfeito do indicativo | | Pretérito mais-que-perfeito simples ou composto |
Imperativo | | Pretérito imperfeito do subjuntivo |
Futuro do presente do indicativo | | Futuro do pretérito do indicativo |
PRONOMES E ADVÉRBIOS
Pronomes e advérbios também são classes gramaticais que requerem alterações. Veja o exemplo a seguir.
Discurso direto | | Discurso indireto |
Justina olhou para Elza e disse: — Hoje não saio de casa. — Não compreendo essa sua atitude. | | Justina disse a Elza que aquele dia não sairia de casa e Elza respondeu que não compreendia aquela atitude dela. |
Hoje (advérbio de tempo) | | aquele dia |
essa (pronome demonstrativo) | | aquela |
sua (pronome possessivo) | | dela |
Observe, ainda, que, além dos tempos verbais, pronomes e advérbios, é preciso estar atento à coesão textual, empregando corretamente os conectivos que unirão as falas que compõem o diálogo.
DISCURSO INDIRETO RELATADO
Na passagem do discurso direto para o indireto, é preferível que se liberte o máximo possível do texto original, fazendo um resumo com suas próprias palavras. É importante manter o significado primitivo do texto e corrigir os eventuais erros existentes.
Muitas vezes, e isto é comum nos vestibulares, é dado um discurso direto contendo erros ou vícios de linguagem, que devem ser eliminados na transposição para o discurso indireto.
EXERCÍCIOS
1. Nos trechos abaixo, transforme o discurso direto em indireto e vice-versa, conforme o caso.
a) “— Não furtei nada! — bradava o preso detendo o passo. É falso! Larguem-me!” (Machado de Assis, in Esaú e Jacó)
b) “Ao jantar Aurélia disse ao marido:
— Há mais de um mês que estamos casados. Carecemos pagar nossas visitas.” (José de Alencar, in Senhora)
c) “— Se quiser me chamar, basta apertar a campainha — diz o funcionário abrindo a porta ao novo cliente que entra pisando firme, majestoso.” (Lygia Fagundes Telles, in Seminário dos ratos)
d) “Ofélia perguntou devagar, com recato pelo que lhe acontecia:
— É um pinto?
Não olhei para ela.
— É um pinto, sim.” (Clarice Lispector, in Felicidade clandestina)
PROPOSTA 1
O inglês Marc Lewis, de 28 anos, está prestes a se mudar para uma casa de mais de 1 milhão de dólares em Londres, onde vai morar com a namorada, Rachel. Poderia estar numa propriedade rural no sul da França, plantando uva e vivendo sem preocupações. Dinheiro não falta. Sua fortuna é estimada em 14 milhões de dólares. Mas não vai optar pela vida mansa, pois é viciado em trabalho. Dono de uma cadeia de restaurantes e de uma empresa de marketing esportivo, Lewis lançou há duas semanas um livro que se tornou fenômeno de vendas na Inglaterra. Em Sin to Win (Pecar para Vencer), defende que o segredo do sucesso é cometer os sete pecados capitais. Para ele, orgulho, preguiça, luxúria, gula, avareza, inveja e ira são características de pessoas bem-sucedidas. Lewis, que não esconde a expectativa de que o filho, Luc, de 5 anos, aprenda bem a lição, ficou milionário aos 20 anos. Em 2000, teve a conta bancária turbinada pela venda da Web Marketing, sua agência de publicidade, por 30 milhões de dólares. Lewis falou a VEJA de Londres, onde se prepara para uma série de palestras para executivos.
Veja – Por que o senhor diz que os sete pecados capitais ajudam a ter sucesso na vida profissional?
Lewis – Orgulho, preguiça, luxúria, gula, avareza, inveja e ira, os sete pecados capitais, são nossas maiores fontes de motivação. São as coisas que nos dão inspiração para o sucesso. Todas as pessoas bem-sucedidas são orgulhosas, querem ser as melhores, anseiam por novas conquistas, não estão satisfeitas com o que possuem. Agem com paixão, não perdem nenhuma oportunidade e concordam que é importante encontrar a maneira mais fácil de atingir os objetivos. Por tudo isso, precisamos exaltar e usar os sete pecados capitais. Não temê-los.
Lewis – Orgulho, preguiça, luxúria, gula, avareza, inveja e ira, os sete pecados capitais, são nossas maiores fontes de motivação. São as coisas que nos dão inspiração para o sucesso. Todas as pessoas bem-sucedidas são orgulhosas, querem ser as melhores, anseiam por novas conquistas, não estão satisfeitas com o que possuem. Agem com paixão, não perdem nenhuma oportunidade e concordam que é importante encontrar a maneira mais fácil de atingir os objetivos. Por tudo isso, precisamos exaltar e usar os sete pecados capitais. Não temê-los.
PROPOSTA 2
UFPR – Em entrevista à revista IstoÉ de 12 de outubro de 1994 (p.04), o compositor Caetano Veloso faz o seguinte comentário sobre sua idade:
IstoÉ: Ter 52 anos assusta?
Caetano: Pesa. Penso que estou ficando velho .Às vezes, me surpreendo: já tenho 52 anos! Assusta. Outras vezes, vejo o meu filho grande, o Moreno. Vejo o pequeno, o Zeca, os dois brincando e fico tranqüilo, sentindo essa coisa de homem velho. É bom, mas a juventude é mais alegre. Quando se é jovem, a gente tem uma porção de grilo, fica com pressa, sente muita agonia, mas é alegre. O velho que está inteiro tem muitas satisfações, muitas coisas ele já conseguiu resolver. Mas não adianta, não tem aquela alegria básica.
O texto publicado está em discurso direto e apresenta uma organização característica da linguagem oral. Tomando como ponto de partida o trecho de entrevista citado, escreva um parágrafo, com o máximo de 10 linhas, expondo o ponto de vista do entrevistado. Utilize o discurso indireto e linguagem culta formal.
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